22 Outubro, 2020
Posted in Imprensa
1 Fevereiro, 2018 Ricardo Vargas

Pode uma academia de formação low cost ter elevado retorno?

In Human Resources Portugal

Num mundo onde o low cost o freemium e o simplesmente grátis penetram cada vez mais modelos de negócio de todos os sectores, fomos falar com Ricardo Vargas, CEO da Consulting House, para saber como avaliar o retorno de Academias de Formação no negócio dos clientes.

 

Human Resources Portugal (HRP): Os gestores ainda são um pouco desconfiados da possibilidade de medir impacto em temas de recursos humanos?

Ricardo Vargas (RV): É natural que todas as pessoas que desconhecem um método pensem que ele não existe. Na área de RH cabem muitos tipos de projectos, metodologias e iniciativas diferentes, umas com impacto directo no negócio, outras com impacto indirecto e outras sem impacto nenhum. Cabe a quem trabalha em RH fazer a demonstração de que as suas iniciativas obtêm resultados concretos. A nossa prática mostra que os resultados dos programas de RH podem ser tangibilizados em indicadores de gestão mensuráveis. Se não for possível medir algo, não é possível geri-lo. E eu acredito na gestão na área de recursos humanos.

 

HRP: Como é que se avalia o impacto de uma Academia de Formação?

RV: O primeiro passo para avaliação do impacto é definir os gaps que a Academia pretende colmatar e os objectivos da mesma – quantitativos e qualitativos – de resultado e de enablers de negócio. Depois, é necessário encontrar – ou desenvolver – as métricas e métodos para avaliar o impacto nos mesmos. Esta é a base. Depois de desenhar e implementar os módulos da Academia, recolhemos e analisamos os dados de impacto na satisfação, conhecimentos e aplicação das aprendizagens dos participantes e nos indicadores de negócio. Se quisermos uma avaliação mais aprofundada, o cálculo do ROI (Return on Investment) permite-nos saber a rentabilidade do projecto. Para isso aplicamos técnicas que isolam os efeitos da Academia de outras variações no negócio e os convertem em dados financeiros.

 

HRP: Qual é o retorno do investimento (ROI) que se pode esperar?

RV: O ROI expectável de uma Academia varia de acordo com o investimento feito. Esta afirmação é óbvia, pois este é o denominador da fórmula de cálculo do ROI. Mas refiro-me ao investimento de uma forma mais abrangente. A quantidade e qualidade dos esforços investidos pelo cliente na criação de uma Academia estão ligadas à capacidade de a mesma gerar um ROI elevado. Uma empresa que se dedique a uma definição estratégica de que tipo de colaboradores precisa para o seu futuro e para atingir os seus objectivos de negócio; um diagnóstico de gaps e necessidades aprofundado; encontrar parceiros de excelência para concretizar a Academia; um processo de desenvolvimento de competências impactante; e definir uma forma de implementação e comunicação estimulante e próxima, será capaz de gerar um ROI elevado. Uma empresa que pretenda implementar uma low cost academy – fazer o mesmo caminho mas com o mínimo de tempo, esforço e dinheiro investido – corre o risco de a sua Academia gerar um ROI reduzido, ou de nem ser capaz de obter retorno do pouco investimento feito.

 

HRP: De que valores falamos?

RV: O ROI pode, em alguns casos, atingir uma percentagem de várias centenas num ano. A investigação refere que não é incomum chegar aos 500% de ROI num ano, quando a implementação da Academia é robusta e eficaz. As avaliações de ROI que já realizámos confirmam essa tese. Obtivemos valores à volta de 700%. Isto é, para cada euro investido a empresa obteve sete euros de retorno. E o retorno continua em anos subsequentes, com valores de investimento progressivamente decrescentes. Quantos investimentos conhece que deem este resultado em tão pouco tempo?

 

HRP: Quais os factores para esse nível de sucesso numa Academia?

RV: Os factores podem ser divididos em 4 áreas: definição do currículo e percursos de aprendizagem; desenho do conteúdo; implementação dos cursos; e acompanhamento no terreno. O currículo deve ser definido em função das competências necessárias para atingir o objectivo estratégico da empresa e a sua evolução deve ser clara e baseada em evidências pedagógicas. A identificação das competências é idealmente feita em conjunto pela equipa executiva, o departamento de Recursos Humanos e os consultores externos. É um exercício que requer algum tempo por poder ter vários ciclos de revisão e reformulação.
A preparação do conteúdo é o cerne de qualquer Academia. O conteúdo tem que ser interligado com a realidade dos participantes. As ferramentas a transmitir devem criar um impacto imediato no terreno. Só se os participantes sentirem que a Academia foi feita para resolver os seus desafios do dia-a-dia é que ela vai ser eficaz. Na implementação dos cursos há várias opções: por formadores externos, por formadores internos, ou mista.

 

HRP: Qual resulta melhor?

RV: Todas têm vantagens, desvantagens e requisitos de implementação. Para que os formadores externos tenham sucesso precisam de dominar o negócio e os detalhes da realidade dos participantes para tornar a aprendizagem impactante. Para que os formadores internos sejam eficazes é importante estarem na posse das mais recentes metodologias pedagógicas e investigação científica. Na nossa experiência a combinação das duas opções resulta melhor. Isto é alguns módulos dados por formadores internos, outros por formadores externos e outros em co-moderação.

 

HRP: Como conjugar equipas de formadores internos com equipas de formadores externos e professores universitários?

RV: Não é surpresa que um dos principais desafios passa pela comunicação, coordenação e alinhamento entre as várias partes. É uma mais valia apostar na integração e fortalecimento das relações entre os intervenientes, canais de comunicação estáveis a que todos tenham acesso partilhado, definição de papéis claros e uma abordagem integrada. O facto de ter diferentes tipos de formadores a contribuir para o percurso do formando pode trazer elevada riqueza desde que haja uniformização ou no mínimo uma harmonia no seu global. Garantir isso é o nosso papel como strategic partner.

 

HRP: E o apoio à implementação?

RV: O acompanhamento à implementação visa garantir a sustentabilidade das aprendizagens. Este acompanhamento pode ser feito por consultores externos ou pela chefia directa. Ambas as opções têm as suas vantagens e desvantagens. É importante escolher um parceiro para a Academia que saiba operar em qualquer contexto e adaptar-se às alterações de negócio que sempre surgem e que podem levar a mudar o modelo em andamento.

 

HRP: Uma empresa de consultoria externa consegue desenvolver uma Academia com conteúdo técnico especializado do cliente?

RV: Sim. Uma empresa de consultoria externa não precisa de ser especialista no tema e conteúdo técnico do cliente. Precisa sim de compreender como é que as pessoas aprendem, como é que o ser humano assimila a informação, a processa e transforma, para conseguir aplicar à sua realidade. A chave não é o “o quê?” mas sim o “como?”. É indispensável que o parceiro seja capaz de trabalhar em conjunto com o cliente para pegar no conteúdo e explorar a melhor forma deste ser transmitido, quais as melhores metodologias, ferramentas e exercícios que permitem uma experiência rica ao formando.

 

HRP: Porque é que uma empresa contrata uma Consultora para desenvolver uma Academia em temas que ela domina melhor que ninguém?

RV: Uma das vantagens da empresa de consultoria é que o afastamento do domínio técnico nos permite um olhar crítico que pode ser refrescante. O cliente domina o tópico de tal forma que poderá nem ter claro como é que deve ensinar o mesmo a alguém que nada sabe. Há situações em que é necessário extrair conhecimento do cliente e torná-lo explícito. A empresa de consultoria externa deve ter competência neste domínio. Os clientes que nos contratam para este tipo de serviço referem também que a gestão de projecto profissional, a defesa dos interesses do cliente perante diferentes parceiros, a implementação isenta de metodologias de avaliação, a credibilidade para propor e defender soluções mais eficazes mas nem sempre consensuais, a posição neutra em relação a interesses internos por vezes conflituantes, a visão global de mercado, o conhecimento alargado do sector, são factores importantes. Mas há uma razão talvez ainda mais importante: uma Academia de formação pode fazer parte do modelo de negócio da empresa.

 

HRP: Uma Academia de Formação pode ser negócio, quer dizer, para clientes finais?

RV: Sim, a formação de profissionais no mercado é um negócio em si, para alguns dos nossos clientes.

 

HRP: Porque é que isso é razão para a Academia ser desenhada por uma empresa externa?

RV: Há um envolvimento de muitas áreas do cliente. A equipa que tem o domínio técnico não é a que sabe vendê-lo, a equipa que desenha o marketing não é a que decide a estratégia, a equipa que escolhe as metodologias não é a que gere o orçamento. Para integrar todas as valências numa Academia que suporte o modelo de negócio do cliente, de forma rápida e eficaz, é preciso ter um parceiro externo sólido a gerir o projecto. Um parceiro competitivo nesse mesmo mercado de venda de serviços em que o cliente vai entrar e que lhe dê garantias de o fazer ao mais alto nível. Estamos a trabalhar internacionalmente neste tipo de modelo.

Outras Sugestões

Free content - Skills for the Future of Life