In Executive Digest
A consciência da importância do tema Ética e Valores empresariais tem vindo a crescer nos últimos anos, sobretudo como consequência dos processos de fusão e aquisição empresariais, ou de problemas financeiros ou ecológicos provocados por decisões éticas e que, por se tornarem públicos, diminuem o valor das empresas ou a quantidade dos seus clientes.
Algumas tentativas de lidar com estes problemas de forma eficaz têm vindo a ser implementadas nas empresas. Podemos agrupá-las em três tipos:
1.Implementação de projectos de Missão, Visão e Valores.
2.Implementação de Códigos de Ética e programas de compliance.
3.Implementação de programas de Responsabilidade Social.
Embora estas soluções sejam adequadas à gestão da ética, a sua operacionalização muitas vezes não é a melhor, o que leva ao descrédito dos projectos nesta área.
Os gestores acreditam, em geral, que basta definir a Missão, Visão e Valores de uma empresa, comunicar a todos e colá-los na parede, para que surtam efeito. Como que por magia, todas as pessoas da empresa passarão a comportar-se de forma alinhada com os valores, a partir desse momento, sem que seja necessário fazer mais nada.
Ou acreditam que o problema se resolve com um Código de Ética, que “normalize” as relações com os stakeholders. Desenvolvem-no, comunicam-no e explicam-no a todos os colaboradores. Garantem o seu entendimento e colocam-no na intranet, para livre acesso de todos. Depois descansam, acreditando que todas as decisões tomadas a partir desse momento serão puramente racionais e baseadas na informação do Código de Ética. Afinal as pessoas entenderam a mensagem, não é?!
Os programas de Responsabilidade Social por vezes não passam de uma inteligente manobra de marketing, com a qual as empresas pretendem demonstrar ao mercado que têm para com a comunidade comportamentos que não existem dentro delas, na relação com colaboradores e fornecedores. Representam em alguns casos, a implementação de medidas de conformidade com uma ideia do que é desejável na moral social, sem que se pratiquem internamente os valores correspondentes; e em outros apenas o marketing de acções que procuram garantir que a empresa respeita a ecologia e a comunidade.
Não pretendo menosprezar estes programas e projectos, pelo contrário. Assumo que a importância da ética empresarial é tão grande que deve ser um assunto de todos. Mas defendo que ela é uma responsabilidade sobretudo de quem gere pessoas. Reduzi- la a códigos, cartas de valores e programas de responsabilidade social é muitas vezes uma forma de ocultar a floresta atrás da árvore.
A ética de indivíduos e grupos é revelada pelas suas práticas, não pelas palavras que utilizam. Entendendo isso, o melhor rótulo que podemos atribuir a iniciativas desgarradas é “ingenuidade”. O público externo da empresa pode “comprar” algumas delas pelo valor facial, mas os colaboradores directos e parceiros de negócio sabem bem qual o valor destes programas: a prática do costume.
Soluções incompletas e não articuladas para a ética empresarial passam aos colaboradores da empresa uma mensagem simples: “vamos lá despachar isto para nos concentrarmos no negócio, que é o que interessa”. É com acções assim, redutoras do essencial da ética empresarial, que se desperdiça a força existente em gerir a cultura organizacional de forma deliberada para atingir resultados, realizar uma Missão e atingir uma Visão.
A definição da Ética desejada é o acto primeiro de gestão deliberada da cultura de uma empresa. A cultura é o resultado consolidado em artefactos, crenças, normas, rituais e comportamentos de uma ética existente. Não é possível sermos mais competitivos do que a nossa ética de trabalho permite. Não podemos ser mais inovadores do que o grau em que perfilhamos o valor inovação. Não conseguimos melhor partilha do que a cooperação em que acreditamos. Cooperação, inovação, excelência, além de palavras são alicerces de práticas de gestão.
A escolha de valores empresariais é um acto importante que, se adequadamente conduzido, pode ter impacto positivo nos resultados e na qualidade de vida na organização. Convém ter em mente nesse processo que as acções dos líderes gritam tão alto que é impossível ouvir as suas palavras. E os valores da empresa devem ser considerados mais do que simples palavras.