Eles andam por aí e todos nós já os vimos. À primeira vista parecem normais. Trabalham ao nosso lado dias a fio, conversam cordialmente sobre os temas profissionais e mundanos, envolvem-se nas tarefas da equipa e tudo parece ir bem. Mas, mais tarde ou mais cedo, algo acontece e eles transformam-se. Ou, melhor dizendo, revelam-se.
Onde antes tínhamos um colega afável aparece um troglodita raivoso. Uma pessoa cuja insatisfação é tão elevada que absorve a racionalidade que a criatura pudesse ter.
Se um colega os ajuda é porque menospreza a sua competência, se não ajuda é porque é um individualista perigoso. Se têm tarefas de responsabilidade é porque estão a ser explorados, se não as têm é porque ninguém confia neles. Se o chefe lhes atribui coisas além do habitual, é um autocrático, se atribui apenas aos outros, estão sob assédio psicológico.
Estas pessoas tornam-se uma espécie de buraco negro da alegria e do bem-estar da equipa. Absorvem e eliminam qualquer energia positiva. O bom que aconteça tem sempre uma interpretação negativa e é destruído com uma dose maciça de sarcasmo.
O que é que provoca isto? Tudo e nada. Porque a criatura é assim. Há pessoas que têm a raiva como um traço de personalidade. Se tudo lhes corre bem e o mundo lhes dá o que acham que merecem, não se nota. Mas ao primeiro sinal de contrariedade, ao primeiro indício de conflito, agridem indiscriminadamente as pessoas em redor. Sendo incapazes de lidar com a frustração de forma construtiva, qualquer dificuldade lhes provoca uma reacção desproporcionada de agressão. Essa é a única forma que conhecem de exprimir emoções negativas.
“Se eu me sinto mal, alguém tem a culpa e deve pagar por isso” – é a lógica. E mesmo quando as ocorrências se repetem várias vezes ao longo da vida, são sempre os outros que estão errados. Jamais lhes passa pela cabeça questionar-se: “Se pessoas diferentes, com motivações diferentes, em situações diferentes tendem a comportar-se comigo da mesma maneira, deve haver algo errado no meu comportamento.” Não, um raivoso jamais se põe em causa. Seria o mesmo que a serpente morder a língua. É demasiado perigoso.
Aprisionados em experiências negativas, vivem em ódio permanente ao mundo. Invejam a competência, a experiência, a jovialidade, a senioridade, a popularidade, a leveza, a inteligência, a beleza ou o que quer que seja dos outros. Não suportam que o mundo não funcione dentro das limitações impostas pelos seus problemas. Não aceitam a grandeza alheia porque inconscientemente se sentem pequenos.
E quando apregoam: “eu sei o que a vida custa”, na verdade querem dizer: “eu só quero que sofras tanto como eu.” A neurose impede-os de ver além do umbigo.
Há muitas pessoas que tiveram infâncias difíceis, adolescências desgraçadas e vidas adultas duras. Mas nem todas essas pessoas se tornam raivosas. Umas porque resolvem sozinhas os seus problemas, outras porque recorrem a ajuda especializada. Em qualquer caso não fazem os outros pagar pela sua perturbação emocional.
O impacto da raiva continuada é brutal. É como tomar pequenas doses diárias de arsénico. Nenhuma delas mata, mas todas somadas provocam um envenenamento fatal. Os colegas raivosos são uma das maiores fontes de mal-estar dentro da equipa. E não é fácil lidar com eles. Quem já tentou explicar-lhes que há formas de relacionamento mais produtivas e satisfatórias sabe que é um esforço inglório. A raiva não é racional.
Por isso, o melhor que tem a fazer é manter-se à distância deles. E, pelo sim pelo não, vacine-se.