14 Janeiro, 2017
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14 Janeiro, 2017 Ricardo Vargas

Que tipo de colaboradores produz a sua Academia?

In Human Resources Portugal

Num momento em que as exportações são o Santo Graal da economia nacional, fomos falar com uma empresa que exporta serviços de criação de academias de formação. Apesar da marca, a Consulting House é uma empresa 100% portuguesa, baseada em Lisboa. Desafiámos o seu CEO, Ricardo Vargas, a explicar-nos o que fazem nesses projectos.

 

Human Resources Portugal (HRP) – Academia de Formação ou Universidade Corporativa?

 

Ricardo Vargas (RV) – Uma academia de formação, universidade corporativa, campus, ou qualquer outro nome que se lhe dê, é uma arquitectura de aprendizagem que visa desenvolver competências estratégicas num tipo de público específico da empresa: trainees, executivos, chefias intermédias, especialistas, etc. a maioria das vezes o nome varia em função do público-alvo, da natureza das competências a desenvolver e da dimensão da mesma.

 

HRP – Porque é que as empresas investem em academias de formação?

 

RV – As empresas investem em academias de formação porque pretendem experiências de aprendizagem integradas com a estratégia do negócio. Querem desenvolver competências indispensáveis em funções estratégicas, que mais ninguém fora da empresa conhece tão bem como eles. Querem controlar todo o processo para organizar currículos de aprendizagem personalizados e garantir a qualidade de conteúdos e formadores. E querem também que a academia seja uma forma de veicular a cultura da empresa. Este aspecto é especialmente importante em academias de liderança, porque os líderes são os principais vectores para a criação da cultura da empresa.

 

HRP – Como saber se vale a pena implementar uma academia de formação ou simplesmente comprar cursos fora?

 

RV – Há duas situações em que não há alternativa à criação de uma academia de formação. Quando a execução de funções críticas para a empresa exige competências que não são ensinadas no mercado e quando as competências que pretendemos desenvolver são uma vantagem competitiva da empresa, que não queremos ver disseminada no mercado. Ou seja, quando mais ninguém sabe ou não queremos que mais ninguém saiba o que ensinamos. Neste caso, uma academia de formação pode ser uma forma eficaz de desenvolver e manter o know-how técnico dentro de portas. Em termos gerais, a decisão de avançar ou não com uma academia deve ter por trás um business case convincente. Deve ser mais eficaz e eficiente para a empresa ter uma academia do que comprar módulos avulsos.

 

HRP – Em que formatos trabalha a Consulting House no desenvolvimento de academias ou universidades corporativas?

 

RV – Há três tipos de parcerias que estabelecemos. Podemos ser: Strategic Partners, Know-how Partners e Delivery Partners. Quando trabalhamos na capacidade de Strategic Partner, o que fazemos é: montar a academia/universidade, desenhar a arquitectura de aprendizagem, definir requisitos para os conteúdos, recrutar e selecionar os parceiros de know-how, definir a governance e participar na gestão, avaliar o impacto, medir o ROI. Em algumas situações somos chamados a fazer o revamp de academias ou universidades que não estão a funcionar como desejado.

 

Quando trabalhamos na capacidade de Know-how Partners, fazemos a pesquisa e desenhamos conteúdos, mantemos os conteúdos actualizados ao longo do tempo, apoiamos os clientes na transformação do seu conteúdo interno em módulos de formação eficazes e entusiasmantes, e treinamos as pessoas que os entregam para tornarem-se bons pedagogos. Em alguns casos, fornecemos conteúdos chave-na-mão. Isto é, criamos módulos perfeitamente ajustados que depois ficam propriedade intelectual dos clientes.

 

Quando trabalhamos como Delivery Partners, o que fazemos é entregar módulos de formação ao mais alto nível de qualidade, em áreas pedagógicas em que lideramos. Muitas vezes em co-monitoria com os formadores do cliente. E actualizamos constantemente as metodologias de aprendizagem.

 

Em alguns projectos trabalhamos em todas as capacidades. Em outros, apenas em algumas.

 

 

HRP – E em termos de conteúdos, criam academias de quê?

 

Como Strategic Partners fazemos sobretudo Academias de Liderança, Comerciais e de Serviço. Como know-how partners fazemos academias técnicas em áreas críticas para os nossos clientes. Como delivery partners entramos em várias universidades corporativas de grandes empresas portuguesas e multinacionais.

 

HRP – Qual o ponto de partida para uma academia de formação?

 

RV – É a resposta a uma pergunta: que tipo de colaboradores deve a academia produzir? Muitas vezes iniciam-se projectos desta natureza com a intenção de recompensar os colaboradores da empresa. Nomeadamente, ao facilitar a aquisição de certificados ou títulos académicos, em conjugação com uma Universidade de referência. Nestes casos, a academia torna-se um fim em si mesma. Isto não é um problema. Mas nós pensamos que as academias de formação devem ser, sempre que possível, factores produtivos do negócio. E neste sentido devem responder à questão: que tipo de empregados precisa a empresa para construir o seu futuro?

 

HRP – Quem responde a esta questão?

 

RV – A gestão de topo. A maioria das vezes envolvendo de grupos de especialistas internos em diferentes áreas. Como qualquer outro exercício estratégico, a criação de academias torna-se mais eficaz se integrar diferentes pontos de vista, saberes e visões sobre o estado actual da empresa e o que ela deve fazer para atingir a sua Visão. Se uma academia de formação não é um vector de implementação da estratégia, não maximiza o retorno do investimento. E às vezes surgem surpresas sobre a dimensão do retorno. Durante uma reflexão destas com a gestão de topo, um cliente nosso descobriu que a academia que estava a querer implementar podia ser comercializada no mercado. O business case, ao incluir essa vertente, revelou um potencial de retorno tão grande que passou o projecto de prioridade trinta e oito para número um da equipa e multiplicou o orçamento da academia.

 

HRP – Como saber o que o cliente precisa, quando desenham uma academia de formação?

 

RV – Essa é uma questão crítica. Quando desenhamos uma arquitectura de desenvolvimento de competências para dois ou três anos, ligada ao negócio, temos de manter um nível de flexibilidade razoável. À medida que desenvolvemos os módulos, a realidade do mercado ou da empresa pode mudar bastante. Não faz sentido nesses casos manter algo que foi definido há dois anos quando já não serve o negócio hoje. Por isso desenvolvemos os módulos em total proximidade com o cliente, muitos deles entregues em parceria connosco. Por vezes temos de alterar a sequência inicial ou mudar o conteúdo para garantir que respondemos às necessidades do momento. Isto é mais agudo em academias comerciais ou de liderança. São mais voláteis. As academias técnicas são mais estáveis.

 

HRP – O currículo das academias está sempre a mudar?

 

RV – Não nesse sentido. Começamos com uma visão de helicóptero da arquitectura dos módulos no desenho inicial. Esta visão de helicóptero inclui informação high level de cada módulo, por exemplo: objectivos e competências. Mas a forma de desenvolver estas competências daqui a dois anos poderá ser bastante diferente do que prevemos hoje. E em alguns casos, os objectivos específicos também se alteram. As nossas academias são eminentemente práticas. A pedagogia deve integrar informação actualizada da empresa para responder a necessidades reais dos participantes.

 

Esta é a vantagem de trabalhar com um parceiro estratégico que integre toda a informação, em vez de comprar módulos avulso a diferentes fornecedores. Consegue-se um nível de eficácia maior porque estamos sempre a jogar com o global da academia para atingir o global dos objectivos. Quando há muitos fornecedores, cada um vê a sua parte e depois o todo nem sempre é articulado da melhor maneira.

 

HRP – Quem são os vossos clientes de academias de formação?

 

RV – Estamos neste momento a desenvolver e implementar academias em Portugal, México, e Suíça. Temos clientes com academias implementadas em áreas da Distribuição, Serviços, Direct Sales e Banca.

 

HRP – Disse que estão a exportar a criação de academias de formação?

 

RV – Sim.

 

HRP – Como é que isso aconteceu?

 

RV – Naturalmente. Como 40% do nosso negócio de consultoria e formação é internacional, algum desse negócio é construção de academias de formação.

 

HRP – Mas são uma empresa portuguesa?

 

RV – 100%. Temos na nossa equipa interna pessoas de diferentes nacionalidades que garantem a capacidade de entregar consultoria em várias línguas: espanhol, inglês, francês e alemão. Isso permite-nos agir em diferentes mercados europeus, e viver no melhor país da Europa.

 

HRP – Finalmente, as academias ou universidades corporativas são o futuro da formação?

RV – Terão um papel importante. Como as Universidades têm o seu, para quem pretende ensino formal. Mas a inovação de conteúdo e metodologia de formação continuará a ser feita por empresas de consultoria especializadas. Haverá sempre programas inovadores não ligados a academias de formação nem a universidades.

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