In Human Resources Portugal, Fevereiro 2011
Dizem que Einstein explicou isto de forma definitiva, embora a descrição da experiência mental que ele propôs tenha sido elaborada demais para a minha compreensão. Sei que começava com um comboio, uma fonte de luz e dois observadores, um dentro e outro fora do comboio. E depois tudo se complexificava e o comboio também podia andar à velocidade da luz. Embora não recorde os pormenores, fixei a conclusão: a velocidade de deslocação dos corpos no espaço depende do ponto de vista do observador.
Este corolário da Teoria da Relatividade tem uma aplicação directa na cultura empresarial. A velocidade da mudança nas empresas é uma função do ponto de vista do observador.
Nas empresas dinâmicas, com uma cultura de adaptação constante, que promovem atitudes de desenvolvimento pessoal nos seus colaboradores, que renovam regularmente os processos de trabalho, que gerem o conhecimento nelas criado, que se focam em antecipar e criar necessidades nos clientes com produtos cada vez melhores, que vivem em mercados de livre concorrência e pouco corruptos, que avaliam tudo o que nelas se faz e diferenciam as pessoas em função da sua produtividade, que têm concorrentes fortes e os respeitam, a mudança faz parte do ADN.
Nestas empresas as pessoas tendem a ser mais insatisfeitas com a velocidade a que a própria empresa implementa mudanças do que nas outras. Isto é, as pessoas que trabalham em empresas mais dinâmicas tendem a achar que a sua empresa não muda suficientemente rápido.
Para nos movermos rápido temos de estar atentos às pequenas alterações que ocorrem no contexto de negócio. Precisamos de valorizá-las como fontes de risco empresarial, investir recursos a identificar e implementar formas de nos protegermos do seu possível impacto negativo. E tudo isto só é possível com um nível de auto-exigência muito elevado. Uma cultura em que entendemos que ser o melhor é arriscado se não formos suficientemente rápidos. E que não procurar ser o melhor é um critério para a certidão de óbito.
Esta cultura de auto-exigência tende a criar uma obsessão com a antecipação das mudanças, que por sua vez provoca uma atenção quase paranóica em relação a tudo o que acontece no mercado, que leva a uma busca constante de melhores formas de antecipar e implementar mudanças, reforçando a auto exigência num ciclo virtuoso de adaptabilidade empresarial.
Como, por mais rápido que nos movamos, estamos sempre sujeitos a novas ameaças, e por melhores que sejamos isso apenas nos torna alvos mais evidentes para a concorrência, não há limite para a auto-exigência.
Pelo contrário, nas empresas que vão sobrevivendo graças ao seu mercado ser pouco dinâmico, aos clientes terem pouca ou nenhuma escolha, a métodos pouco lícitos mas eficazes para garantir o volume de negócios, aos seus colaboradores serem pouco ambiciosos e os clientes comprarem sem valorizar a qualidade, as pessoas tendem a ser muito menos exigentes com a velocidade de adaptação da sua própria empresa.
O nível de exigência é baixo porque desde o início estas empresas são criadas de forma a aproveitar uma oportunidade de mercado de forma não competitiva. Como as alterações de mercado e as entradas de concorrentes vão sendo neutralizadas por meios que não o ganho constante de qualidade e produtividade, a auto-exigência não lhes faz sentido. Logo, por mais lentas que sejam nunca percebem a necessidade de mudar, até que o seu modelo de negócio se esgote definitivamente.
Este é o paradoxo: quanto mais rápido nos movemos, mais lentos nos achamos.