Livre-se das doenças da interpretação. Cultive a saúde interpretativa.
“O que somos hoje advém dos nossos pensamentos de ontem, e os nossos pensamentos de hoje constroem a nossa vida de amanhã: a nossa vida é criada pela nossa mente.”
Dhammapada
A pergunta do título parece paradoxal. Afinal, é dever da empresa criar um ambiente de trabalho saudável e é direito dos colaboradores dele usufruir. É este pressuposto que preside, aliás, a todas as regulamentações em matéria de higiene e segurança no trabalho (HST): a empresa proporciona condições de trabalho saudáveis, os colaboradores beneficiam das mesmas.
No entanto, será que garantir um ambiente de trabalho saudável é apenas responsabilidade da empresa? Se entendermos saúde como “um estado completo de bem-estar físico, mental e social, e não meramente a ausência de doença” (OMS), facilmente se depreende que o colaborador não é um mero receptor ou beneficiário passivo das condições de trabalho proporcionadas pela empresa. Ele é um construtor activo dessas mesmas condições de trabalho, nomeadamente, pela forma como interpreta novas responsabilidades que lhe são atribuídas, pelo sentido que dá ao seu trabalho, pelo significado que dá aos insucessos, pela maneira como “classifica” cada colega e se relaciona com ele, pelas intenções que atribui às acções dos outros, pela maneira como gere as prioridades, pelo melhor ou pior planeamento que faz, entre outros exemplos.
De acordo com a forma (positiva ou negativa) como o colaborador interpreta e lida com cada pequeno acontecimento do seu dia-a-dia profissional, vai ter uma percepção subjectiva de maior ou menor saúde no seu ambiente de trabalho. Se um colaborador cultiva relações de conflitualidade com os colegas está a contribuir para um ambiente de trabalho saudável? E se oculta informação? E se faz a interpretação de que os colegas são todos uns idiotas e só ele é que trabalha? E se se considera um fracassado quando erra? E se vê em todas as acções do chefe a intenção de o prejudicar? E se acha que tudo é importante e urgente e, por conseguinte, é para fazer hoje? E se tem explosões emocionais à primeira contrariedade? E se se considera tão parco de competências que bloqueia de cada vez que lhe atribuem uma tarefa nova? E se assume as culpas por todos os erros mesmo quando toda a equipa participou directa ou indirectamente no projecto? Ou seja, cada colaborador é protagonista na promoção da sua saúde mental, social e, consequentemente, física.
Quando em contexto de entrevista, coaching, formação ou outro perguntamos às pessoas como se sentem na actual função e/ou local de trabalho, obtemos frequentemente respostas como “Dou de mim até à exaustão”, “Detesto o que faço”, “Preciso de mais tempo para mim”, “Não faço coisas em sintonia com o meu propósito de vida”, “Não valorizam o meu trabalho”, “O meu chefe é intragável”, “Sou apenas um número na empresa”, “Preciso do dinheiro que ganho aqui”, “Não me consigo perdoar por não ter lutado pelos meus sonhos profissionais”, “Não tive coragem de rejeitar esta função e agora estou a pagar o preço disso”…
Não obstante todas as diferenças, em todas estas pessoas há um denominador comum: sofrimento psicológico de raiz interpretativa. Este sofrimento psicológico é gerado e mantido em todos os casos, por leituras e interpretações negativas e limitadoras que as pessoas fazem da sua própria realidade: 1) Quer porque se focam apenas no lado negativo da situação, 2) quer porque a interpretam como mais “negra” do que realmente é, 3) quer porque interpretam que não têm alternativa e consideram-se num “beco sem saída”.
A investigação científica no domínio da psiconeuroimunologia (PNI) demonstra que podemos tornar-nos doentes quando a mente faz interpretações e tem pensamentos “pouco saudáveis” (e vice-versa).
O cérebro percepciona, a mente interpreta. Os nossos sentimentos e crenças afectam todas as nossas células, já que a bioquímica das crenças positivas e negativas é totalmente distinta. Os pensamentos e sentimentos negativos induzem no organismo respostas de stresse (com libertação de cortisol, noradrenalina, etc.), que, de forma reiterada, se vão traduzir em doenças físicas e psicológicas; da mesma forma que os pensamentos e sentimentos positivos ajudam o corpo a reparar-se porque induzem respostas de relaxamento (com libertação de endorfinas, serotonina, dopamina, oxitocina e outros químicos com poder curativo que se espalham pelo sangue e que mudam a fisiologia das células).
Hoje a epigenética é taxativa em afirmar que os nossos genes não são imutáveis e muito menos deterministas. Pelo contrário, são muito flexíveis e são altamente influenciados pelo tipo de pensamentos (positivos ou negativos) e o tipo de emoções (positivas ou negativas) que cultivamos afectam o nosso ADN (para além da influência já conhecida de factores como o estilo de vida, a nutrição, o exercício físico, etc.). Temos, por isso, a capacidade de usar o poder da mente para alterar o modo como o nosso ADN se exprime e determinar os nossos níveis de saúde.
Assim, que interpretações saudáveis já fez hoje? Quantas vezes já activou as respostas de relaxamento e de auto-reparação do seu organismo ao longo do dia?
Se quer ter colaboradores que assumem a responsabilidade pela promoção de ambientes de trabalho saudável e que zelem pelo seu bem-estar físico, mental e social, fale connosco.