20 Junho, 2016
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8 Outubro, 2020 Ricardo Vargas

O problema do optimismo

In Executive Digest

O que será melhor para o nosso futuro? Ser optimista ou pessimista? O que reverterá em melhores acções e resultados, o pensamento positivo ou o negativo?

 

 

 

 

As opiniões dividem-se, nos cafés e nos media, entre especialistas e leigos, políticos e empresários. Parecemos ter dois países: o Portugal que funciona, que dá exemplos de produtividade, com boas empresas e bons empresários, que inovam e lideram os seus sectores de actividade, e o Portugal que não consegue, do passado tacanho e do presente burocrático, dos governantes sem ideias e dos patrões oportunistas, do défice e da improdutividade. De um lado os que acreditam e do outro os que desconfiam.

 

Não me interessa saber quem tem razão (provavelmente todos, cada um a sua), mas debater qual das duas posições é a mais útil para o futuro conjunto. Nesta demanda, o optimismo é habitualmente anunciado como um vencedor antecipado. Afinal, acreditar no futuro brilhante dá-nos em princípio mais motivos para lutar por ele. Será mesmo?

 

O optimismo é uma emoção. Ser optimista significa acreditar que no futuro as coisas vão melhorar, vão ficar bem e serão satisfatórias. O pessimismo é a emoção de sinal contrário, significa acreditar que no futuro as coisas vão piorar, ficar mal e serão insatisfatórias. Podemos ser optimistas ou pessimistas em relação a uma área específica da nossa vida, ou em relação a tudo.

 

Se analisarmos as definições, vemos pontos comuns: ambas são emoções baseadas em crenças e orientadas para o futuro. O que explica que optimismo e pessimismo levantem problemas idênticos.

 

Por serem emoções baseadas em crenças não favorecem a análise racional. O optimismo não integra a informação que aponta o que está mal, nem o pessimismo integra a que aponta o que está bem. Por serem orientados para o futuro, não conduzem a uma avaliação rigorosa do presente em que vivemos.

 

Optimismo e pessimismo valem o mesmo. São emoções contemplativas. Dão-nos a sensação de conforto ou desconforto, mas em si não nos incitam a fazer nada. Tanto uma como outra podem ser paralisantes ou mobilizadoras.

 

Proponho a substituição nacional do optimismo por contentamento e do pessimismo por insatisfação.

 

O contentamento é uma emoção orientada para o passado. Sentimo-nos contentes pelo realizado, pelos bons resultados, pelos problemas resolvidos ou evitados. Ao contrário do optimismo, o contentamento promove uma avaliação objectiva das nossas acções, do que fomos, e somos, capazes de fazer.

 

A insatisfação é uma emoção mobilizadora. Fomenta a avaliação do presente. Sentimo-nos insatisfeitos com o que temos, com o que não fazemos bem, com o que não tem qualidade. É por estamos insatisfeitos que queremos ser melhores, ter mais, avançar.

 

Outro aspecto positivo da substituição proposta é que o contentamento e a insatisfação podem funcionar em conjunto, não são emoções antagónicas. Pode-se estar contente e insatisfeito com as mesmas coisas ao mesmo tempo, mas não optimista e pessimista. Em conjunto, o contentamento e a insatisfação são mesmo mais produtivos do que isolados; alimentam-se mutuamente. O contentamento dá-nos orgulho e alento. A insatisfação dá-nos motivo para progredir.

 

Em troca do debate estéril, optimismo versus pessimismo, que tanto anima o país, proponho-lhe que responda a duas questões: que razões tem para estar contente com o que faz? O que não o satisfaz no que já conseguiu?

 

Se as respostas não lhe derem ideias para melhorar a sua vida, então assuma-se pessimista, porque nada mais o fará.

Artigo originalmente publicado a 9 de agosto de 2006

 

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