24 Março, 2010
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2 Outubro, 2018 Ricardo Vargas

O coaching, o computador e o burro

In Pessoal

Quando se pensa na 4ª revolução industrial, há um conjunto de conceitos que vêm associados: digitalização, robotização, internet das coisas, inteligência artificial. Quando se coloca a pergunta: que competências serão necessárias para (sobre)viver e prosperar nesse admirável mundo novo, aparece uma lista de habilidades técnicas: programador, data scientist, circuit designer, analista de sistemas, engenheiro de hardware, etc.

 

 

É como se o único papel dos humanos passasse a ser criar e manter as máquinas que mantêm o nosso mundo em funcionamento. A minha avó, alentejana arguta, não deixaria de dizer que isto é “ter o burro para carregar palha para dar de comer ao burro.”

Alvin Toffler, numa entrevista à ABC em 1998, defendeu que a sociedade do futuro continuará a precisar de competências relacionais, emocionais, afectivas. Nas suas palavras, “não se pode gerir a sociedade apenas com base em computadores.” Tratando-se do homem que escreveu “A Terceira Vaga” e “O Choque do Futuro”, e que lançou muitas ideias que hoje são realidade, dificilmente podemos acusá-lo de retrogradismo e contorná-lo.

O coaching pode ser um processo de destruição criativa que nos liberta de quem fomos para podermos ser quem queremos ser.

Entrevistado por Toffler, o psicólogo Herbert Gerjuoy afirmou que “o iletrado do futuro não é aquele que não sabe ler; é o que não aprendeu a aprender.” E Alvin centrou nesta frase o seu entendimento da competência mais nuclear para lidar com o choque do futuro, com as suas mudanças demasiado rápidas, confusão social e processos de tomada de decisão ineficazes.

A competência mais importante para lidar com a era digital é a capacidade de aprender, desaprender e reaprender, incessantemente. Não só dominar o processo de aprendizagem, como dizia Gerjuoy, mas também saber como anulá-lo, reprogramá-lo, redireccioná-lo, e recomeçar em dimensões e formatos nóveis. Conseguir começar de novo, sem o peso do passado, mas com o seu impulso.

Isto exige um entendimento do funcionamento do nosso cérebro que não é dado pela educação formal. Não do cérebro humano em geral, mas do “nosso” – de cada um – cérebro. O processo de aprendizagem é individual, mediado por crenças, emoções, paradigmas, competências, cognições que foram construídas ao longo de uma narrativa única, ela própria promotora ou dificultadora da assimilação. Por isso, o processo de (re)aprendizagem também tem de ser único.

É aqui que entra o coaching. Um processo de desafio de crenças, cognições, paradigmas, ideias feitas, pressupostos, com o objectivo de transformar alguém para melhor. Um bom coach será um parceiro de treino que ajuda a construir conhecimento. Mas também deve ser um desafiador que ajuda a destruir tudo o que dentro de nós inconscientemente nos bloqueia, mesmo que nos torne eficazes, conhecedores, competentes.

O coaching pode ser um processo de destruição criativa que nos liberta de quem fomos para podermos ser quem queremos ser. Põe nas nossas mãos o processo de aprender a ser, para que possamos aprender a saber o que precisamos. Alvin Toffler e a minha avó estariam de acordo que esta é a única maneira de não servirmos o burro que nos serve a nós na era digital.

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