28 Março, 2007
Posted in Imprensa
30 Maio, 2018 Ricardo Vargas

Management Surf

In Executive Digest

O mercado vai e vem, na sua irracionalidade e imprevisibilidade. A aleatoriedade real da vida e das coisas humanas é um facto difícil de aceitar, pelo que inventamos teorias, modelos e ciclos para explicar a posteriori o que aconteceu.

Num sistema complexo, com múltiplos níveis de variáveis, macro e micro tendências contraditórias, qualquer ocorrência pode ser explicada. Há sempre uma linha de raciocínio que permite ligar os pontos que antes pareciam aleatórios numa “evidente” linha explicativa. Toda a gente sabe os números certos do Euromilhões no dia seguinte.

Mas a quantidade de dados produzida a cada momento é tão avassaladora que, para podermos processá-la, temos de fazer escolhas: eliminar, reduzir, simplificar, conformar a padrões e interpretar. E algures, durante o processo, algo se escapa. Algo insignificante, mas que pode mais à frente surpreender-nos com a negação completa de tudo o que achávamos que sabíamos: a realidade.

Quando analisamos os dados económicos num dado momento, contabilizamos inflação, taxas de juro, indicadores de confiança, produtividade, desemprego, clima económico, crescimento, etc., etc. No seu conjunto, neste momento, esses dados parecem consolidar a ideia de que é avisado esperar por melhores condições para agir, para investir, para arriscar.

A ideia é simples: qualquer onda média chega e sobra para as habilidades de um surfista medíocre  

Em si esta noção não tem nada de errado. É uma ilação perfeitamente racional em cima de factos analisados até à náusea. O único detalhe é ser habitualmente feita pelas mesmas pessoas e com os mesmos instrumentos de análise que há pouquíssimo tempo nos disseram: “ponham todo o vosso dinheiro no subprime e fiquem ricos.” Portanto, ou os instrumentos e conceitos são imperfeitos e as suas conclusões não podem ser fiáveis, ou estes “cientistas” erram de forma tão grosseira que se os médicos errassem assim a espécie humana já estaria extinta.

A verdade é que as condições ideais não existem. São um mito. Há perigos e oportunidades em qualquer situação. O mercado tem sempre lugar para boas ideias e bons profissionais que as executem, produtos e serviços inovadores ou simplesmente que satisfaçam melhor ou mais barato as necessidades que os clientes têm, mesmo que não saibam que as têm.

Esta é a diferença entre o surf-surf – o que é feito no mar – e o management-surf – o que é feito por empreendedores que procuram aproveitar as oportunidades do mercado com as suas empresas-

No surf-surf é preciso remar em cima da prancha para passar a rebentação, posicionar-se no local certo e esperar pela melhor onda para surfar. A melhor onda é um conceito relativo, que depende das condições atmosféricas, do estado do mar, da disposição do surfista e em grande medida do seu nível de competência na modalidade.

Paradoxalmente, mantendo todos os outros factores sob controlo, poderíamos até dizer que quanto melhor for o surfista, mais tempo espera dentro de água. A ideia é simples: qualquer onda média chega e sobra para as habilidades de um surfista medíocre, enquanto um bom atleta pode esperar por uma onda digna de uma boa exbição.

No management-surf se esperarmos que a onda do mercado tenha adquirido uma dimensão razoável, de certeza que já há uma série de empreendedores que estão a aproveitá-la, reduzindo drasticamente a possibilidade de entrada de novos surfistas. Neste caso, paradoxalmente, esperar pela onda é perder a possibilidade de a aproveitar.

Os resultados são criados pelas nossas acções, não o contrário. O surf é aqui e agora. Vamos criar a onda para poder surfá-la.

*Artigo escrito por Ricardo Vargas, CEO da Consulting House, retirado da revista “Executive Digest”.

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