Era uma vez, no final dos anos 60 do século passado, uma jovem que começou a quebrar barreiras de género, quando decidiu frequentar aulas de física e álgebra avançada. Ela era uma de duas raparigas na sua escola que decidiram frequentar uma área considerada do domínio masculino. O nome dela é Carol Bartz.
Hoje podemos conhecê-la como a ex-CEO arrojada e realista da Yahoo! Inc. A empreendedora self-made percorreu um longo caminho, lutando um cancro de mama e várias situações de discriminação de género. Quando Bartz se juntou à 3M em 1972, era a única mulher profissional numa divisão de 300 homens. Depois de repetidas discriminações e de ser recusado um pedido de transferência para a sede com as palavras “Mulheres não fazem este trabalho”, demitiu-se. Mas não porque tenha concordado essas palavras, e sim para provar o contrário.
E conseguiu fazê-lo. No início dos anos 90, tornou-se CEO da Autodesk, uma empresa de design de software. Durante o seu “reinado” impressionante de 14 anos como CEO, transformou a Autodesk numa gigante de software que ganhou mais de $1,5 bilhões de receita anual em 2008.
Histórias de sucesso de empreendedoras como a de Carol Bartz são raras. Embora as mulheres tenham ganho terreno em muitos sectores de negócios, nos “Silicon Valleys” dos nossos tempos ainda é raro encontrá-las em posições de topo.
A proporção de mulheres em funções de gestão diminui a cada nível que subimos na hierarquia das empresas. O gráfico abaixo mostra a percentagem de mulheres nos diferentes cargos de gestão em sectores com participação geralmente baixa de mulheres como, por exemplo, o sector high-tech.
Vamos concretizar e analisar a administração de topo de algumas empresas de “Silicon Valley”. Na APPLE, as mulheres representam apenas 5,9% da administração de topo. Os maiores “pecadores” são McAfee, a Cypress Semiconductor e a JDS Uniphase. A sua percentagem? ZERO. Os melhores desempenhos são: HP (21,7%) e Google, com 15,8% de mulheres na administração de topo.
A grande questão é: por que temos tão poucas mulheres em posições de topo nas empresas high-tech? Três razões do senso comum poderão surgir:
- (1) As mulheres, no geral, não são boas empreendedoras.
- (2) As mulheres não têm as competências específicas para liderar empresas high-tech.
- (3) As mulheres não estão interessadas em alta tecnologia.
Vamos analisar cada uma destas razões em maior detalhes.
Será que as mulheres não são boas empreendedoras? Como as mulheres geralmente têm menos ambição por poder e risco do que os homens, poderíamos pensar que as mulheres são menos boas em funções de poder. No entanto, isto não se confirma. Antes pelo contrário: as mulheres são muito boas gestoras. Veja-se abaixo os resultados de um estudo da McKinsey, realizado em 2007.
E agora dizem-me: “Sim, essas são exactamente as coisas em que as mulheres são normalmente boas! Tudo o que está ligado a inter-relações, preocupação com outros, entender os membros da equipa. Mas o que as empresas realmente valorizam são números. As empresas querem maior volume de negócios.” Sim, correcto. E os estudos provam que as empresas com a maior variedade de género nos níveis de topo apresentam maior Retorno de Acções, maior EBIT (resultados antes de juros e impostos) e maior crescimento dos preços das acções. Então, as mulheres têm tudo para levar uma empresa ao sucesso. São boas empreendedoras. A razão número 1 está fora.
Então e a razão número 2? Mulheres não têm as competências específicas para liderar empresas de alta tecnologia. Primeiro, vamos questionar o que as empresas high-tech precisam para ter sucesso no seu ambiente altamente competitivo. Precisam estar sempre actualizados, precisam de ser criativos e inovadores e trazer a mais recente descoberta ao mercado antes da sua concorrência. O que precisam é de uma “estratégia de inovação intensa “.
Em 2008, pesquisadores da Columbia Business School e da Universidade de Maryland analisaram dados de 1500 grandes empresas norte-americanas entre 1992 e 2006, para determinar a relação entre o desempenho da empresa e a participação feminina na gestão de topo. Confirmaram o que vimos acima no estudo da McKinsey: empresas que tinham mulheres em posições de topo tiveram melhor desempenho. Mas encontraram ainda outra coisa: isto era particularmente verdadeiro quando para a empresa “a criatividade e a colaboração eram especialmente importantes”. As empresas que têm mulheres no topo apresentam um desempenho melhor, especialmente quando procuram uma estratégia intensa de inovação.
Então, a razão número 2 também não é suportada.
Vamos olhar para a razão do senso comum número 3 – As mulheres não estão interessadas nos produtos directos da era da informação. São menos inclinadas para a alta tecnologia do que os homens. Poderia ser… Pelo menos, encontramos mulheres representadas em maior número nos sectores social, de saúde e de serviços. Certo? E a teoria da evolução fornece também explicação para isso: os nossos genes ainda são marcados pelos nossos ancestrais de milhões e milhões de anos atrás, quando ainda éramos “homens das cavernas”. Naquela época, os homens iam caçar e as mulheres ficavam na caverna com as crianças e cuidavam da casa. Juntavam-se às outras mulheres, iam à floresta mais próxima e colhiam bagas e cogumelos. A interacção social com outras mulheres e crianças seria o seu programa do dia. Então, será que as mulheres ainda carregam esses genes e simplesmente não se interessam por produtos de alta tecnologia, porque nada têm a ver com interacção social?
Estudos com macacos parecem provar esta teoria das preferências determinadas pela genética.
Os macacos são considerados bons sujeitos para pesquisas relacionadas com questões de influência dos genes porque (1) são geneticamente os nossos parentes mais próximos e (2) não são influenciados pelas normas sociais e pelas ideias que a sociedade tem sobre o comportamento próprio de género. Ou seja, são sujeitos de pesquisa neutros ou imparciais.
Numa experiência com macacos-vervet, os investigadores apresentaram aos machos e fêmeas duas opções de brinquedos – veículos de rodas e brinquedos de peluche, como bonecas. Descobriram que as fêmeas eram mais propensas a pegar nas bonecas. E os machos mais propensos a pegar nos carros de brincar (Alexander e Hines, 2002).
Este estudo parece comprovar que os machos estão mais interessados em objectos que tenham uma função associada e as fêmeas estão mais interessadas em objectos relacionados com a interacção social. Então, será a nossa razão número 3 confirmada? A sério?! Macacos?!
Os três motivos do senso comum não se aplicam, por não explicarem o porquê de encontrarmos tão poucas mulheres em posições de topo nas empresas high-tech.
Há outro factor que poderá explicar melhor por que encontramos menos e menos mulheres quanto mais subimos na hierarquia da pirâmide tecnológica: a ausência de modelos.
Iniciativas e programas de mentoring para mulheres técnicas em todo o mundo já mostraram os primeiros resultados. Por exemplo, o programa Distributed Mentoring da University of British Columbia integra mulheres técnicas universitárias com mentoras durante uma experiência de investigação de verão. A medição da eficácia deste programa de mentoring mostra que 50% das mulheres que recebem mentoria seguem uma pós-graduação, em comparação com cerca de 3% de todas as mulheres que se certificam em ciência da computação.
No Canadá, programas para raparigas adolescentes mostram que aulas de informática conduzidas por professoras do sexo feminino e salas cheias de raparigas aumentam a participação das mesmas de 10% para 40% (canadawomenincs).
Com estas iniciativas, que proporcionam às mulheres modelos femininos na área da tecnologia, já estamos num bom caminho para atrair activamente mais mulheres para o sector da tecnologia e, eventualmente, para posições de liderança em high-tech.
Que mais terá o futuro para oferecer às mulheres?
Se Dan Pink, ex-redactor de discursos do vice-presidente Al Gore, estiver certo, estamos a mover-nos da era da informação para a era conceptual. Isto significa uma mudança de uma economia construída sobre as competências lógicas e sequenciais da Era da Informação para uma economia construída sobre competências inventivas e empáticas – a Era Conceptual. Noutras palavras, estamos a mudar da alta tecnologia para o alto contacto. E este movimento poderá significar um benefício para as mulheres.
Para torná-lo mais marcante, Pink denomina a era da informação como a era do cérebro esquerdo e a era conceptual como a cérebro direito. Tudo o que era característico do estilo de trabalho do século passado, processos lineares, talentos lógicos e analíticos (o domínio do cérebro esquerdo e tipicamente os pontos fortes dos homens) ainda é necessário, mas não suficiente. Em vez disso, no século XXI, as habilidades mais importantes estão mais próximas às especialidades do hemisfério direito – arte, criatividade e empatia. Pink explica que, em momentos onde podemos fazer download de conhecimentos especializados na Internet, as competências não podem ser digitalizadas – criar empatia com um cliente ou entender as subtilezas de uma negociação (tipicamente forças das mulheres) tornam-se mais valiosas.
Pode ser que as mulheres se relacionem melhor com as exigências dessa nova Era.
Mas, qualquer que seja o futuro das mulheres, só pode ser inspirador se o encararmos com o espírito de Carol Bartz: “A maioria das pessoas assume que, porque sou mulher, sou alguém que está atrás de um líder, um homem. O facto de que eles não serem iluminados é problema deles, não meu”.