4 Dezembro, 2018
Posted in Blog
28 Outubro, 2009 Ricardo Vargas

Estou rodeado de idiotas

In Executive Digest

Acontece uma vez por outra na vida de toda a gente. Um projecto que corre mal, em que a maioria da equipa falha e apenas um dos seus colaboradores consegue, em elevado esforço, salvar a situação. Por um momento todos dependeram dele e todos lhe devem o sucesso. Pode ocorrer por várias razões e não vem daí mal ao mundo.

 

Há no entanto outro tipo de situações em que sistematicamente alguém se queixa de ser a única pessoa competente na equipa ou no departamento. “Sem mim nada se faz.” “Tenho de estar envolvido em tudo.” ”Se não sou eu, ninguém garante a qualidade do trabalho.”

 

 

 

 

É interessante como por vezes nos enganamos a nós próprios. Quem todos os dias desabafa “Estou rodeado de idiotas no trabalho!” perante a família e os amigos, deixa escapar um pormenor relevante da situação: se alguém é um profissional tão bom porque é que se permite ficar numa situação tão má? De certeza que um trabalhador tão valioso, com competências tão boas, será recebido de braços abertos onde quer que vá.

 

Há pessoas que não conseguem valorizar-se sem deitar os outros abaixo. Precisam de estar sempre a mostrar as coisas em que se distinguem positivamente, mas omitem aquelas em que ficam abaixo da fasquia. Criam uma ficção de auto-relevância em que apenas elas acreditam.

 

Por vezes isto é uma forma de manifestar a raiva que sentem face à empresa. No passado profissional de todos nós há momentos menos bons, em que fomos desrespeitados, menosprezados ou injustiçados face a colegas. Em geral por chefes incompetentes ou mal-intencionados.

 

As opções para lidar com estas situações são várias. Desde logo a mais radical: sair da empresa. Há limites que não devem ser ultrapassados sob pena de vermos a nossa dignidade afectada.

 

Mas podemos também lutar por mudar as práticas de gestão que consideramos erradas. Discutindo os problemas com as pessoas relevantes. Escalando na hierarquia se não temos respostas satisfatórias. Pedindo apoio a quem tenha autoridade para intervir. Se acreditamos que as acções de que fomos vítimas não representam o comportamento desejado dentro da empresa, e que seriam negativamente sancionadas se fossem conhecidas, esta é a melhor opção.

 

A terceira opção é aprender a viver com a situação. Encontrar um compromisso pessoal que nos permita trabalhar de forma produtiva e viver na empresa sem sofrimento constante. Quando o sucedido não é grave, quando há atenuantes para o comportamento de que fomos vítimas, quando acreditamos que não há intenção de provocar dano mas apenas distracção, esta é a melhor opção. É também indicada nos casos mais graves em que a pessoa reconhece que a opção de sair da empresa lhe está vedada, por falta de oportunidades no mercado, por falta de empregabilidade do próprio ou simplesmente por aversão ao risco. Nesses casos, mais vale aprender a não sofrer.

 

Qualquer uma destas três opções é positiva, porque aumenta as possibilidades de melhorar a situação, tanto do ponto de vista da empresa como do colaborador. Mas na prática a opção mais escolhida é a quarta. A pessoa não sai, não tenta mudar a situação, não aprende a viver com ela sem dor, limita-se a ficar, produzir o menos possível e falar mal da empresa e dos colegas em todas as oportunidades.

 

Estas são as pessoas que apregoam “Estou rodeado de idiotas!” quando na verdade o que têm para dizer é “Estou insatisfeito e não sei como mudar a situação ou sinto-me impotente para fazê-lo. Mas não assumo isto porque tenho receio de me confrontar com as minhas próprias dificuldades.”

 

Conhece alguém assim?

 

Outras Sugestões

, ,
Free content - Skills for the Future of Life