Quando pensa em fontes de stress, o que lhe vem à cabeça? Trânsito caótico, chefe incompetente ou explosivo, quantidade de trabalho, deadlines apertados, equipa disfuncional, trabalho monótono, desemprego, exigências familiares, conflitos conjugais…Uma lista de factores que têm em comum o facto de serem externos a nós.
No entanto, lida ou já lidou com pessoas que apesar de enfrentarem, por exemplo, duas horas de trânsito ao princípio do dia e outras duas ao final não exibem quaisquer sinais de stress? Ou que embora atravessem um período de desemprego evidenciam uma serenidade surpreendente?
Avaliação individual
Ainda que tendamos a posicionarmo-nos como “vítimas” de uma série de “agressores externos”, na realidade, não é tanto o que nos acontece, mas a forma como percebemos o que nos acontece, o que determina o nosso nível de stress. Nesta matéria, a avaliação individual é crítica. Não há acontecimentos geradores de stress mas avaliações individuais geradoras de stress. O significado que atribuímos é o verdadeiro gerador de stress. Só isto justifica que duas pessoas submetidas a acontecimentos de vida semelhantes tenham reacções distintas e até antagónicas.
Percepção de controlo e de apoio
No nível de stress, a par do significado que conferimos ao que nos acontece, também interfere a nossa percepção de controlo sobre a situação. Quando a resposta à pergunta “Posso fazer alguma coisa para alterar isto?” é positiva, a reacção de stress é inferior. O mesmo se aplica à nossa percepção de apoio social (“Alguém pode ajudar-me a resolver isto? Apoiar-me neste momento difícil? Ou, pelo menos, escutar-me?”).
Acontecimentos negativos, positivos e não-eventos
Será que só os acontecimentos percebidos negativamente é que nos geram stress, como cliente “difícil”, reclamação, conflito com colega ou chefe, dispor de pouco tempo, perda de familiar? Não. Também podemos sentir stress diante de acontecimentos de vida percebidos como positivos. Por exemplo, o nascimento de um filho ou uma promoção na empresa são tipicamente categorizados como positivos e, no entanto, pela forma como alteram as nossas vidas, podem ser geradores da resposta stress. O mesmo em relação aos não-eventos – acontecimentos desejados que não se realizaram.
Mas afinal o que é o stress?
Trata-se de uma resposta global do organismo que começa com uma avaliação individual e que tem uma correspondência fisiológica (ex., dores de barriga, dores de cabeça, cansaço, perda ou aumento de apetite, insónias, aumento dos níveis de cortisol, adrenalina e noradrenalina no sangue…), psicológica (ex., ansiedade, irritabilidade, pessimismo, pensamentos de incapacidade…) e comportamental (ex., reacções explosivas, agressão física e/ou psicológica, erros, acidentes, comportamentos autodestrutivos, etc.).
Esta reacção do organismo ocorre sempre que avaliamos que a situação em que estamos envolvidos exige recursos de que não dispomos, do ponto de vista quantitativo e/ou qualitativo (competências, conhecimentos, dinheiro, rapidez, equipa, tempo, etc.).
Stress: sempre negativo?
Não. Existem 2 tipos de stress: o eustress e o distress. O eustress é uma energia que nos mobiliza para a acção. Leva-nos a fazer as coisas bem e nos prazos estabelecidos o que, nesse sentido, é altamente protector. Já o distress, esse sim, é negativo, sobretudo se prolongado no tempo e pode conduzir a quadros de psicopatologia – ansiedade generalizada, depressão, burn out, etc.
Artigo originalmente publicado a 09 de Fevereiro de 2019